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A Regra de S. Bento é aqui apresentada como a terceira fonte da espiritualidade beneditina, enquanto mestre e educadora da “vida no Espírito” para os que a seguem.

Regra beneditina e contemplação
Um autor moderno escreve: “Há uma contemplação beneditina que deriva de certo estilo de vida e consiste num gosto muito profundo de Deus, de sua Revelação, de sua Eucaristia, na alegria que a alma encontra nos objetos da fé, no amor pela Igreja, etc. Provém de uma transformação evangélica da pessoa na base da Regra. Tudo é muito humilde. Não há análise discursiva do homem. Vive-se a Regra, muito simplesmente e essa humildade predispõe ao gosto de Deus em seu Cristo”. Nessa passagem, nota-se que o autor salienta o papel da Regra beneditina como educadora para a contemplação, plenitude da “vida no Espírito”.

A Regra de S. Bento, educadora da vida no Espírito.
Algumas características da Regra:

a) ela coloca a Liturgia como fonte e ápice da vida espiritual do monge: a partir da Páscoa é determinado o tempo de trabalho, os elementos da Liturgia das Horas; há todo um capítulo sobre a observância da Quaresma; o seu mais longo capítulo, o da humildade, tem como pano de fundo o mistério pascal a ser vivido pelo monge; o prólogo apresenta a vida monástica como participação do mistério pascal: “Não nos separando jamais do seu magistério (da Regra) e perseverando no mosteiro sob a sua doutrina até a morte, participemos, pela paciência, dos sofrimentos do Cristo a fim de também merecermos ser co-herdeiros de seu reino”.

b) coloca a Escritura como alimento cotidiano da vida do monge(lectio divina)

c) prima pela discrição e pelo equilíbrio: (“Ne quid nimis”… “que os fortes desejem fazer mais e os fracos não desanimem”. “Nesta escola de serviço do Senhor, nada esperamos estabelecer de áspero ou penoso, mas, se aparecer alguma coisa de mais rigorosa é ditada por razões de justiça, para a emenda dos vícios ou conservação da caridade”. O seu equilíbrio também se expressa na famosa máxima: Ora et labora (Reza e trabalha), dispondo harmoniosamente a vida dos monges conforme esses dois elementos.

d) Educa para a “vida no Espírito” através da visão sobrenatural dos elementos que enquadram o habitat do monge, valorizando o momento presente como o ponto de contato entre o temporal e o eterno. Sob o olhar de S. Bento as realidades temporais são iluminadas pela visão da fé: a comunidade; o abade é considerado como fazendo as vezes de Cristo; no trabalho, Deus é glorificado; sob a visão da fé são considerados o relacionamento do monge com os irmãos com quem convive e com as pessoas que acolhe; os objetos e instrumentos do mosteiro são tratados como vasos sagrados do altar; as virtudes, isto é, as “energias” espirituais do monge são apresentadas como instrumentos da arte espiritual: o perdão, a paz, a renúncia, a obediência, o silêncio, a paciência, a verdade, o amor, a oração, a humildade, o bom zelo, o temor de Deus; as correções são medicinais; há também na Regra uma harmoniosa disposição dos meios de comunhão dos irmãos entre si: o serviço da cozinha, do refeitório, da leitura, da hospedaria monástica, da enfermaria, da portaria, da formação dos novos membros, etc; a vida comum coloca também em comum objetos, dons recebidos, qualidades e dons pessoais, etc.

Essa rápida exposição do valor educativo da Regra de S. Bento mostra que ela não é uma teoria cientificamente documentada, mas tem um caráter espiritual, cujas fontes, como já se demonstrou, são a Escritura (a Regra é bíblica, sobretudo evangélica, pelo seu espírito e pela sua tessitura) e a Tradição (embebe-se da doutrina dos Padres da Igreja e do monaquismo) e tem ainda um testemunho de vida: a de S. Bento, pois ele não poderia ensinar de um modo e viver de outro, como diz S. Gregório Magno, seu biógrafo.
Terminando essa apresentação sumária da terceira fonte da espiritualidade beneditina, a Regra de São Bento, seja citado o que ele escreve, como que sintetizando o sentido e o espírito da comunidade monástica: “Nada, absolutamente nada, anteponham a Cristo, que nos conduza juntos para a vida eterna (cap.72).